Não, esse não é meu primeiro blog.
Não, essa não é minha primeira tentativa de explicar que eu sou uma spanko aqui no Brasil.
Não, eu ainda não perdi as minhas esperanças de encontrar alguém e de criar visibilidade ao meu fetiche.
E qual é meu objetivo? Encontrar e juntar outros iguais a mim – porque sim, nós existimos no Brasil.
Eu, desde a mais tenra idade, fui aficionada por palmadas, mais especificamente por palmadas disciplinares. Eu me lembro com detalhes de desenhos animados e cenas de novelas com palmadas envolvidas. Eu me lembro de ainda muito pequena pesquisar no dicionário e encontrar com certa vergonha a palavra “palmadas” e fechar rapidamente o livrinho observando se ninguém tinha me visto.
Eu ainda era criança quando percebi que minha ânsia era diferente da dos demais, pré-adolescente eu usava um vídeo-cassete para gravar possíveis cenas de palmadas em desenhos animados e em filmes.
Adolescente, com acesso à internet discada, eu comecei a procurar material sobre palmadas e foi quando me deparei com “contos sobre palmadas” dos mais diversos tipos, para todos os gostos e todos eram disciplinares. Foi aí pelos meus quatorze anos que eu finalmente entendi que eu tinha um gosto diferente e que isso tinha alguma conotação sexual.
Os anos se passaram, houve uma caça às bruxas na internet e todos os sites de contos foram deletados e eu passei a frequentar chats do UOL. Eu buscava conversar e tentar entender o que havia de “errado” comigo. Por qual razão todas as minhas amigas pensavam em namorados, em beijar e em sexo e eu só pensava em palmadas e em ser corrigida?
Graças aos contos na internet eu sabia o que eu era, eu era uma spankee e eu sabia que meu fetiche era levar palmadas num contexto de disciplina doméstica.
Eu sabia que isso não era um problema, que era consensual e que eu seria capaz de encontrar alguém que quisesse o mesmo que eu. Eu sabia e eu tenho tanto a agradecer a esses nomes que simplesmente sumiram da internet e que me deram a luz de saber exatamente o que eu era e o que eu queria!
Apesar dos sites não existirem mais, havia bastante material sobre BDSM na internet e foi aí que comecei minha jornada e aos dezoito anos fui na minha primeira festa, sem conhecer ninguém, virgem e morrendo de medo. Era uma casa amarela, o Dominna.
Indubitavelmente o fetiche (ou parafilia, que é o termo correto) por spanking como domestic discipline está inserido no contexto do BDSM – mas certamente é um ramo a parte, com interesses, estética, instrumentos e modus operandi distintos.
Entrar numa casa BDSM foi estranho… Quão estranho foi ver aquilo… Uma masmorra, um X, floggers, pessoas vestidas de couro e meias arrastão, muito preto e vermelho, um trono, uma jaula… Pessoas de coleira e com apetrechos que eu desconhecia.
Não, aquilo não era o que eu queria. Eu queria estar vestida de estudante, ou, com uma roupa normal num ambiente doméstico levar umas palmadas. Um biblioteca! Uma biblioteca criaria um cenário muito mais interessante que um calabouço.
Era isso, eu queria apanhar numa biblioteca e não numa masmorra. Eu queria me vestir de estudante, eu queria um roleplay familiar – não aquilo.
Mas, aquilo foi o que achei e sou muito grata porque foi o que me permitiu achar BDSMers que curtiam spanking, mesmo que num contexto distinto do meu fetiche primário. Desde cedo eu aprendi a navegar por águas diferentes das que eu sonhava.
Desde então tenho muito o que contar, são dezoito anos explorando meu fetiche e buscando outros como eu… E o mais legal é que eu encontrei! Mas sei que somos muitos e que precisamos nos encontrar e nos juntar.
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